Tem sido noticiada nos últimos dias a publicação do Diário Oficial peruano na qual foi decretado pelo governo estado de emergência em 11 distritos da região amazônica deste país, após a constatação de contaminação das populações locais por Mercúrio (leia a matéria aqui).
O Mercúrio é utilizado de forma ampla e inadequada na região para exploração de metais preciosos (ouro proveniente de materiais aluvionares) e seu descarte ocorre de forma inadequada nos solos e mananciais locais. Essa ação afetou a qualidade dos rios utilizados pela população, além da ocorrência de fenômenos de bioacumulação e biomanificação nos sistemas aquáticos locais, resultando em elevadas concentrações deste elemento nos peixes consumidos, principal via pela qual as pessoas estão sendo afetadas, já que por se tratar de um metal pesado, o Mercúrio tem efeito cumulativo no organismo.
Uma grande preocupação reside no fato de que o Mercúrio (principalmente na forma de Metilmercúrio) é fortemente absorvido pelo sistema gastrointestinal humano e é distribuído rapidamente pelo corpo, ocasionando problemas agudos e crônicos no sistema nervoso (levando a problemas de coordenação e diminuição do campo visual) e distúrbios neurológicos diversos, além de problemas digestivos e renais, com probabilidade adicional de ser um elemento cancerígeno. No momento, além da saúde da população em geral e interrupção do consumo de peixes contaminados, o estado de emergência também visa cuidado especial com grávidas e crianças, uma vez que a exposição ao Mercúrio causa anormalidades no desenvolvimento cerebral do feto, inclusive com paralisia, além de efeitos graves de desenvolvimento e aprendizado em crianças.
Apesar de polêmico, infelizmente este não é o primeiro caso de exposição de populações ao Mercúrio. Os casos da Baía de Minamata, no Japão, e de Mercúrio presente em um fungicida aplicado no Iraque, ilustram casos onde também a saúde humana foi afetada e colocada em risco. No caso peruano, a contaminação tem como fontes atividades de mineração ilegais (em sua maioria) e a fiscalização e extinção destas atividades torna-se um desafio de difícil resolução, aliada a necessidade de descontaminação local e assistência à população por prazo indeterminado, revelando os elevados prejuízos humanos, sociais e financeiros oriundos de descartes inadequados e atividades ilegais.
Para que episódios desta natureza não se tornem frequentes e não ocorram inclusive com atividades regulamentadas e devidamente instaladas no Brasil, aplica-se o Gerenciamento de Áreas Contaminadas (em nível federal pela Resolução CONAMA 420/2009 e, para alguns estados, por legislações específicas sobre o tema) que busca elencar atividades potencialmente poluidoras e contaminações eventualmente ocasionadas por estas, para as quais é imprescindível que se conheça características, extensão, comportamento e se pode haver algum risco à saúde humana ou a sistemas biológicos em função desta contaminação, levando à necessidade de ações de intervenção e remediação ambiental nos casos onde possa haver riscos ou se defina a necessidade de diminuição dos níveis de contaminação. A AmbScience atua em todas as etapas do processo de Gerenciamento de Áreas Contaminadas para investigação e remediação ambiental, além de eventuais medidas de monitoramento, restrição e engenharia que se façam necessárias, visando a proteção de populações e de ecossistemas.